A nova lei do amor

Porque cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto;pois não se colhem figos de espinheiros,nem dos abrolhos se vindimam uvas.
O homem bom,do bom tesouro do seu coração tira o bem,e o homem mau de seu mau tesouro tira o mal;porque a boca fala daquilo que o coração está cheio.Lc.6-44/45.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

“Para aprender, necessitam-se dois personagens (ensinante e aprendente) e um vínculo que se estabelece entre ambos. (...) Não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar” (Fernández, 1991, p. 47 e 52).

Toda aprendizagem está impregnada de afetividade, já que ocorre a partir das interações sociais, num processo vincular. Pensando, especificamente, na aprendizagem escolar, a trama que se tece entre alunos, professores, conteúdo escolar, livros, escrita, etc., não acontece puramente no campo cognitivo. Existe uma base afetiva permeando essas relações.

A relação professor/aluno em sala de aula é um processo bastante complicado, pois existem nesse contexto diversos aspectos a serem analisados, tendo em vista que, para um bom relacionamento entre ambos há necessidade de ir além de um simples relacionamento afetivo.

Dentre as muitas dificuldades encontradas pelo professor frente ao aluno, uma delas, talvez a mais crucial, seja a distância que separa as realidades de um e outro.

Conhecer o mundo do aluno é o elemento mais importante para uma boa relação entre professor e aluno, eis aí o caminho para que ocorra a verdadeira mediação de conhecimento que o professor deve realizar.

Não pode existir um vácuo entre professor e aluno, pois será exatamente aí o campo da dificuldade. Neste espaço caberá ao professor preencher com a amizade que deve haver entre ambos, pois a relação de respeito assim se tornará mais latente, o aprendizado mais eficaz e a satisfação plena de ambos.

Podemos dizer que o ato de ensinar não tem uma fórmula pronta e sim o processo gradativo e uma construção que envolve sempre a reflexão na ação e que cada dia em sala de aula é diferente. Portanto, a reflexão é um ato político que contribui para a construção da própria individualidade do aluno e do professor pós-moderno.

E FOI MAIS OU MENOS ASSIM QUE FUI ME TORNANDO PROFESSORA...

Graduei-me em Letras (Português/Inglês). Iniciei a vida profissional em um CIEP, no interior em São Sebastião do Alto, RJ. Porém, desde a época do curso normal sempre estive envolvida, de uma forma ou de outra, com a educação e a prática docente. Ainda no ensino fundamental facilitava grupos de estudos e dava aulas particulares alfabetizando crianças na casa da minha avó.

Quando iniciei minha carreira docente, propriamente dita, no ano de 1993, fui vídeo-educadora, recreadora, alfabetizadora, professora do ensino fundamental, enfim passei por todos os segmentos e disciplinas que o CIEP oferecia na época.

À medida que vivia a sala de aula, ia experimentando, gradativamente, a condição de ser professora. Era como se eu fosse me transformando, inclusive o modo de me reconhecer e me relacionar com o outro.

Eu experimentava, saboreava, me constituía e ia sendo constituída pela experiência. Experiência essa que era reatualizada em sua intencionalidade relacional com os outros parceiros e com os outros eus também.

Quando comecei a lecionar oficialmente e regularmente no ensino médio, foi lá pelo ano de 2003, fiquei mais atenta aos outros professores colegas. Procurei observá-los, assimilar modelos, copiar algumas coisas, questionar em mim outras a partir deles e procurava trocar idéias. Isso sem dúvida fez parte da minha experiência de ser professora. Além disso, mantive (até hoje mantenho) uma espécie de diário de bordo, onde anotava a programação das aulas por disciplina e por turma; o que acontecia na sala de aula, como me sentia, o que observava na aula ou nos alunos e tudo mais relativo à experiência vivida de ser professora. Cada aula, cada disciplina, cada semestre vivido era tomado como algo novo, cheio de possibilidades diferentes, mesmo eu mantendo o registro das coisas que aconteceram e mesmo eu me referendando no modo como trabalhei com os alunos e as disciplinas lecionadas.

Encontrei alunos com grandes dificuldades e necessidades, sei que com amor, atenção e respeito os ajudei muito. Sentia uma vontade, um prazer muito grande de continuar aprendendo com tudo que experimentava. E percebia que, quanto mais experimentava, mais me transformava. Não que eu fosse algo hoje e amanhã algo completamente diferente, sem consciência, lembrança e características do que fui. Mas vivia o paradoxo de continuar sendo o que nunca fui, de ter a sensação de continuar sendo eu apesar das mudanças.

É nesse estar aberto, a partir da ação relacional, que vivi e vivo a experiência de ser professora. Experiência essa, muitas vezes dolorosa, desequilibradora. Em vários momentos, em sala de aula, por exemplo, experimentava coisas que me desagradavam, que me incomodavam. Lembro certa feita que me dei conta do meu autoritarismo ou mesmo da dificuldade de aceitar as minhas falhas e limitações. E isso me incomodou bastante. Mudar esse lado meu foi fundamental para que a aprendizagem da turma indisciplinada que peguei no ano de 2008, num CIEP em Nova Friburgo, foi fundamental para que a aprendizagem acontecesse de forma eficiente. Tive vontade naquele ano de desistir de tudo e não podia, pois precisa daquele trabalho para sustentar minha família naquele ano de desemprego do meu marido.

Lembro-me também, como se fosse hoje, no ano de 2003, que certo aluno do 2º ano noturno que sentava sempre na primeira carteira, quando ia as aulas, me observava,analisava com olhos de águia e me questionava sempre sobre algum assunto surgido.Observei que era um aluno diferente e que tinha um conhecimento de mundo que eu não tinha.Suas redações eram bem contextualizadas e bem diferentes das dos outros alunos.Suas provas e trabalhos surpreendentes. Procurei conhecer a vida e a realidade daquele aluno que se destacava tanto, descobri que ele era atendente em um bar e que vinha de uma outra cidade e que lá nessa cidade teve a oportunidade de estudar em uma escola de primeiro mundo,ele havia ganhado,por mérito próprio, uma bolsa internacional e tinha sido o melhor aluno daquela instituição.Nossa amizade foi crescendo e suas experiências foram me encantando.Nossa afetividade crescia a cada dia.

Quando fui para a especialização, esse aluno foi quem me ajudou a formatar e fazer minha monografia, acabei tirando nota máxima graças à sua ajuda, um simples estudante do ensino médio da EJA.

No final do ano ele concluiu seu curso. E no ano seguinte começamos a namorar nos casamos e hoje temos um filho de seis anos... Não poderia deixar de expressar aqui essa parte de minha carreira e vida profissional que hoje faz parte de minha história individual e pessoal. Um laço de afetividade que se perdurou além dos muros da escola...

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Quando se assume que o processo de aprendizagem é social, os focos para as interações e os procedimentos de ensino tornam-se fundamentais. O que se diz,como se diz, em que momento e por quê; da mesma forma que, o que se faz, como se faz, em que momento e por que, afetam profundamente as relações professor-aluno, influenciando diretamente o processo de ensino-aprendizagem.

O comportamento do professor, em sala de aula, expressa suas intenções, crenças, seus valores, sentimentos, desejos que afetam cada aluno individualmente.

Vale relatar aqui um comentário feito por um aluno em relação ao tema: “é legal quando a aula é boa; fazemos provas e podemos fazer a recuperação quando não conseguimos. O fato de aprender muito com o professor: quando o professor, além de ensinar a matéria, conta piadas e brinca com os alunos; quando o professor manifesta-se preocupado com os problemas dos alunos; a aceitação de proposta dos alunos;

O fato do aluno se interessar por determinada disciplina; gostar dos professores, pois eles ensinam sobre tudo; quando o professor dá atenção aos alunos que precisam; quando o professor discute a matéria até através de um “bate-papo” ou uma “prosa”;

“O fato de o aluno conseguir entender a matéria; quando o professor esclarece as dúvidas, esse é o cara, assim conseguimos aprender e esse cara faz a diferença pra nós...” Erick, 9º ano EF (C.E.Januário de Toledo Piza)

Ao concluir estas considerações, frisa-se a necessidade de o professor assumir diferente postura em relação à educação e às metodologias que procuram articular o processo de ensino-aprendizagem com o de mudanças sociais que assolam o dia-a-dia de todos nós, professores e alunos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERNANDÉZ, A. (1991) A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas.

DANTAS, H. (1992) Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon, em La Taille, Y. Dantas, H., Oliveira, M. K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus Editorial Ltda.

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